Segundo uma análise feita pelo economista João Moreira Rato, o Managing Partner do Fundo Horizon Sérgio Monteiro, e o especialista na banca de investimento Paulo Lameiras Martins, a crise gerada pelo novo coronavírus criou muitas dificuldades não previstas às empresas, mas acelerou os processos de fusão, aquisição e restruturação de empresas e setores específicos, fortemente afetados pela crise.
João Moreira Rato é de opinião que haverá espaço para operações de merger & aquisition nos distressed assets, com especial destaque nas empresas que sofreram mais com a crise (como é o caso das empresas na área da hotelaria e turismo, empresas de exportação ou empresas que estavam previamente fragilizadas). Paulo Lameira Martins opina, também, que estas empresas poderão vir a ser alvo de aquisições devido à forma como a crise as impactou, mas também de restruturações. Lameira Martins salienta que o investimento público terá também um papel de elevada importância, sendo que é de lembrar que Portugal receberá o fundo de recuperação da União Europeia nos próximos anos, 15.300M€ a fundo perdido através do Plano de Recuperação Europeu, bem como 29.800M€ pelo Quadro Financeiro Plurianual, que farão uma total diferença na recuperação das empresas.
Outras questões salientadas pelo especialista na banca de investimento Paulo Lameira Martins passam não só pelo setor dos combustíveis (gas & oil), onde já se observam mudanças devido às preocupações ambientais e “revolução energética”, sendo que certas empresas já recorreram a write-offs, mas também como a rápida adesão à digitalização proporcionará vias de negócio novas e distintas.
Setor da Banca Recorre Também a Fusões
João Moreira Rato conta que, com exceção de muito poucas instituições, em Portugal a banca está relativamente segura pois os bancos portugueses estão “bem capitalizados e por isso estão preparados para absorver o previsível aumento dos NPL (non-performing loans)”. No entanto, lá fora, alguns bancos já começaram processos de fusão, como no caso de Espanha onde o banco catalão CaixaBank previsivelmente absorverá o Bankia, e Itália onde o banco Intesa Sanpaolo adquiriu o UBI. A vantagem deste tipo de fusões é que o banco resultante terá maior margem de manobra para lidar com as perdas resultantes da crise pandémica, bem como terá “uma carteira de empréstimos mais equilibrada”, muito importante tendo em conta o aumento do crédito vencido, que acontece assim que se dá o fim das moratórias de crédito.
A confiança das empresas e das famílias já não é a mesma, tendo em consideração a forma como a crise impactou o dia-a-dia das pessoas, com a queda do PIB, a quebra no consumo ou o aumento do desemprego de forma exponencial. Como tal, Sérgio Monteiro explica que a incerteza acaba por ser “o grande fator de receio dos agentes económicos”, tendo em conta que depois de se começar a observar uma recuperação geral na economia, a Covid-19 abalou o mundo e estagnou qualquer tipo de evolução, retirando a esperança a muitos.
Crescente Preferência Pela Monetização De Ativos
O gestor refere, ainda, que “só a crença numa solução de curto/médio prazo para a pandemia fará os empresários e os particulares comprometerem mais capital” e que as empresas estão, agora mais que nunca, a procurar alternativas que não sejam linhas bancárias, no que toca ao financiamento, como a monetização de ativos, sendo que as linhas bancárias têm sido para as empresas como que “apólice[s] de seguros”, que as poderão salvar no caso de não conseguirem ultrapassar, ou de virem a sentir, o impacto negativo da crise nos próximos tempos.
Por fim, Sérgio Monteiro afirma que, apesar de existirem alguns setores que não estavam a contar com certas soluções de capitalização antes da crise dada à Covid-19, agora terão que procurá-las, sendo que retomar-se-ão com uma certa urgência não só processos de merge & aquisition, tanto de empresas como de ativos, mas também processos de restruturação.
Fonte: Jornal Económico