Ficando atrás apenas do mercado do ouro ou do setor tecnológico, as yields do mercado imobiliário de Portugal estão este ano a ultrapassar índices bolsistas mundiais, apesar do golpe que a pandemia deferiu no setor de investimento e que o afetou durante os últimos 9 meses.
“Na Ásia, a bolsa de Tóquio perdeu cerca de 2%, enquanto a bolsa de Xangai subiu 5,51%, acima da bolsa australiana, que ganhou 3,33%. Do outro lado do mundo, no Brasil, o Bovespa afundou 18,20% e, mais a norte, o norte-americano S&P 500 avançou pouco mais de 4%, longe da valorizaram de 29% do ano anterior. Na Europa, o Stoxx 600, o índice que junta as maiores empresas europeias, tombou mais de 13%.”, avança o Jornal Económico, que frisa que apenas a gigante tecnológica Nasdaq viu o seu aumento acontecer, com uma subida de 30,75%, aproximando-se calmamente do recorde de 38% que atingiu no ano de 2019.
Outro mercado que sentiu a crise pandémica em primeira linha foi o mercado do petróleo, principalmente devido ao excesso de oferta perante uma procura praticamente inexistente no pico da pandemia, o que levou a negociações de contratos em valores negativos. A Brent caiu 38% e a WTI, 34%, nos primeiros 9 meses do ano atual.
Como tal, os investidores tiveram que procurar outras soluções, mais seguras e mais controláveis, principalmente nestes dias de incerteza. Por outro lado, estes ativos de refúgio que são escolhidos em momentos de crise, não só valorizam o capital investido como chegam mesmo a proteger certos investimentos noutros setores em declínio (como o petróleo). O ouro, que teve a sua maior subida nos últimos 5 anos (cerca de 22%), é um exemplo deste tipo de ativos. E, pelos vistos, o mercado imobiliário português, também.
Subida nacional das yields imobiliárias
Nuno Nunes, Diretor de Capital Markets da CBRE Portugal, afirma que é um ano em que o setor imobiliário não irá cair em falta. Considerado um “escape em épocas de maior volatilidade”, o mercado imobiliário tem vindo a ser uma boia salva-vidas, apesar de captar um volume menor de investimento, quando comparado com o mercado das ações ou das obrigações. Em concordância está a Head of Residential da JLL Portugal, Patrícia Brandão, que vê uma crescente procura para investir no setor imobiliário, face a outros setores de médio risco. Apesar deste setor não ter retornos tão grandes como outros, é de frisar o facto de o risco ser mais baixo e existirem menores variações, características valiosas numa realidade como a que vivemos.
O quadro geral feito pela CBRE demonstra uma subida nacional de cerca de 0,25% das yields, no segundo trimestre face ao ano anterior, com Lisboa e Porto com elevadas subidas também. A Merlin Properties, uma SIGI cotada na Península Ibérica, também está em linha com estas afirmações. João Cristina, Country Manager da empresa, diz que, só no imobiliário comercial, é possível observar variações de 4%, 5% e 6%, com escritórios, centros comerciais e logística, respetivamente. No segmento do imobiliário residencial, a Head of Residential Patrícia Brandão, observa que os “preços foram imunes ao vírus”, com um aumento de 11,7% em relação ao período homólogo, o que ajuda a explicar o porquê das yields de residencial se mantenham entre os 3% e os 4%. Patrícia Brandão explica, também, que o ano de 2020 fez notar que o setor imobiliário é um dos mais “resilientes”, até porque os ativos imobiliários não só são versáteis, como também ganharam uma importância especial nos dias que correm. Por outro lado, “a necessidade de habitação vai sempre existir”.
SIGIs e a sua importância agora reforçada
As SIGIs (Sociedades de Investimento e Gestão Imobiliária) seguem a lógica da detenção de capital de uma empresa pela compra de ações, só que focado no mercado imobiliário sob a forma de compra de ativos imóveis, explica o Diretor de Capital Markets da CBRE Portugal.
Nacionalmente, existem 3 SIGIs (Oreas Portugal, Bankinter e Sonae Sierra) e 2 dual listings espanholas com cotação ibérica (a Merlin Properties e a RSR). O “maior mérito” de uma SIGI acaba por ser o de dar a oportunidade aos pequenos investidores de comprar uma ação correspondente a um imóvel quando estes estão interessados em entrar no mercado imobiliário, oferecendo uma “gestão especializada” desses investimentos.
Este tipo de investimento indireto oferece acesso aos pequenos investidores a mercados, setores e ativos que, de uma forma direta, não teriam acesso. Desta forma, estes poderão criar “uma liquidez de investimento muito superior”, conclui Nuno Nunes.
Fonte: Jornal Económico